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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Classic Albums - Pink Floyd - A história por trás de Animals




Após as gravações de Wish You Were Here, o Pink Floyd decidiu comprar o prédio localizado no número 35 da Britannia Row, em Londres. Trata-se de um antigo salão de igreja com três andares que serviria de estúdio e depósito para seu arsenal de PAs, sistemas de luz e efeitos de palco. Pela primeira vez eles teriam toda aquela parafernália de ponta sob um mesmo teto e a ideia seria alugá-la para outras bandas enquanto não estivessem na estrada. No intuito de se tornarem os reis do mercado desse tipo de aluguel, duas empresas foram criadas: a Britannia Row Audio, gerenciada pelo roadies Mick Kluczynski e Robbie Williams, e a Britannia Row Lighting, comandada por Greame Fleming. Infelizmente, o tempo mostrou que eram poucos que precisavam daquelas gigantescas torres de luz e dos mixers quadrifônicos em seus shows e, anos depois, boa parte dos equipamentos foi passada para frente.

A nova empreitada serviria de suporte como uma fonte de renda extra, mas principalmente para que pudessem gastar o tempo que fosse necessário para gravar os próximos álbuns e economizar com os gastos caríssimos da locação em estúdios de qualidade. O contrato original com a EMI previa que eles tinham tempo ilimitado no Abbey Road Studios, mas em contrapartida teriam que abrir mão de um percentual dos lucros. Com esse acordo expirado após WYWH, a medida mais sensata parecia apostar nesse novo empreendimento.

O estúdio de gravação ficava no térreo do prédio, o que demandou uma complexa instalação de esteiras, guinchos e empilhadeiras para que pudessem transportar toneladas de equipamentos para o galpão de depósito localizado no segundo piso. No último andar ficavam o escritório e uma mesa de bilhar, sugerida por Roger Waters para seu momento de fuga do stress das gravações.

Embora as empresas de arrendamento não tenham prosperado, o estúdio mostrou-se uma opção comercialmente viável. Projetado por Jon Corpe, sua estrutura era composta por um bloco de concreto chamado lignacite (mistura de areia, serragem e cimento) que acusticamente é menos reflexivo que o tijolo comum e proporcionava um som um único que seus concorrentes não tinham. Nick Mason detalha a sua estrutura: “Nossa intenção era construir uma concha aplicando todos os conhecimentos para garantir que qualquer imperfeição acústica pudesse ser ajustada com almofadas e materiais maciços. Escavamos o piso de forma a nos permitir fazer uma estrutura de blocos completos dentro do vigamento existente na edificação. A estrutura foi descansada em amortecedores isolantes fixados numa laje de concreto. Isso era necessário para prevenir as inevitáveis notificações vindas dos vizinhos, assim como para bloquear a trepidação causada pelo caminhões e ônibus que passavam pela estrada North Road que fica próxima ao local.”. Como sempre, perfeccionistas e inovadores.

Em abril de 1976 começaram a gravar novo material para o disco seguinte em companhia dos engenheiros Brian Humphries e Nick Griffiths. Naquele momento, já existiam duas músicas compostas que ficaram de fora do álbum anterior: Raving and Drooling, e You Gotta Be Crazy, que retrabalhadas transformaram-se em Sheep e Dogs, respectivamente.

Waters tinha vários cadernos em que anotava letras e ideias que surgiam em sua mente. Numa daquelas páginas, havia um rascunho para um projeto de filme junto com vários desenhos de máscaras de animais. O enredo da película tinha como pano de fundo um mundo distópico em que três subespécies representariam a raça humana: porcos tiranos, cachorros autocratas e ovelhas submissas, influenciado pelo livro “A Revolução Dos Bichos” de George Orwell. Embora ainda existissem alguns buracos no desenvolvimento da trama, essa foi a base que sustentou críticas ácidas ao sistema, consumismo e opressão num mundo repleto de desigualdades.  O baixista, que foi criado por uma mãe ativa no Labour Party, justifica suas ideias socialistas: “Quando eu era criança, sempre pensava que ter um monte de dinheiro era errado. Aqueles sentimentos de culpa nunca foram exorcizados.”.

Imagem da confusão em Notting Hill
Num contexto histórico, aquele ano ficou marcado pela violência que assolou o tradicional carnaval londrino que ocorre em Notting Hill desde 1966, resultando em cerca de 300 policiais feridos e mais de 60 prisões civis, muitas delas arbitrárias. O mesmo incidente é relatado na música White Riot do The Clash. Essa confronto serviu de inspiração para Sheep, que trata essencialmente da desordem social: “É uma música sobre revolução. Era minha ideia sobre o que ocorreria na Inglaterra e posteriormente aconteceu no tumulto em Brixton e Toxteth (1981).”, explicou Roger Waters.

Do outro lado do atlântico, jovens músicos apostavam numa nova fórmula com canções diretas, engajadas e não precisavam de muito mais que dois minutos e três acordes para expressarem sua raiva contra o sistema. Logo a imprensa musical abraçou essa causa e o Punk Rock chegou na Inglaterra com força máxima, surgindo grupos como The Damned, The Clash e os companheiros de gravadora, Sex Pistols, representando o oposto das apresentações pomposas e músicas longas dos “dinossauros” ELP, Yes e, é claro, o Pink Floyd. Em novembro de 1976, os Pistols lançaram o single Anarchy In The UK e viraram a cena musical inglesa do avesso. Eles ensaiavam no mesmo prédio na London’s Denmark Street em que a Hipgosis tinha seu estúdio. Storm Thorgerson e Aubrey Powell cruzavam direto com aqueles punks imundos nos corredores do prédio até que, num belo dia, Johnny Rotten apareceu vestindo uma camiseta do Pink Floyd com um emblemático “Eu odeio” logo acima do nome da banda. Powell se recorda: “Eu disse, ‘Você está me tirando?’ E ele respondeu: ‘Sim, estou tirando você e toda essa merda que vocês tocam.”. Apesar do incidente, na maior parte do tempo eles eram educados e gentis.

Em 1992, Waters provocou durante uma entrevista: “Quando aconteceu o punk? Eu nem percebi.”. Já Gilmour parece menos incomodado com essa história: “Eu acho que Rotten nos usou como uma espécie de símbolo, porque éramos um alvo com substância. Seria muito chato ter escrito ‘Eu odeio o Yes’ em sua camiseta.”. Anos mais tarde, ainda disse à revista NME: “Não acho que nos sentimos alienados pelo punk, apenas não acreditávamos que era algo relevante. Sempre fico maravilhado quando escuto músicos ingleses que eram grandes na era punk dizendo que adoravam tudo o que fazíamos – e isso inclui um membro dos Sex Pistols! Não, não vou contar quem é.”. Alfinetadas à parte, fato é que as letras de Animals eram tão corrosivas quanto qualquer mensagem punk. Mark Blake, conceituado jornalista e biógrafo da banda, pontuou felizmente que a mensagem “Estamos todos revoltados” por trás de Dark Side Of The Moon foi substituída por “A vida é uma merda” em Animals.

Ocorre que, naquele momento, o Floyd não era mais quem estava em evidência, como quando surgiram em Cambridge na metade nos anos 60 e exploraram a psicodelia musical e visualmente no underground londrino até se tornarem gigantes milionários e reconhecidos na década seguinte. Agora era a vez de uma outra geração surgir com uma nova forma de expressão artística e se deleitar na crista da onda. O próprio Nick Mason produziu o segundo álbum do The Damned, Music For Pleasure, no Britannia Row em 1977: “Mas isso apenas porque eles queriam que Syd Barrett o fizesse. Obviamente, ele não estava disponível e acho que ficaram bem desapontados de acabarem comigo.”. A única confusão propiciada pelos punks se deu quando um dos membros da equipe resolveu pichar todas as caras paredes de lignacite. Até mesmo a banda ficou envergonhada e decidiram limpar meticulosamente todas as manchas.

Internamente, Animals foi um marco na divisão de poderes entre os integrantes, o que resultou em brigas insustentáveis e na consequente separação anos mais tarde. Richard Wright, talvez o mais prejudicado quando passou a integrar a banda como músico contratado tempos depois, comentou sobre essa época: “Foi o período em que Roger realmente começou a acreditar que era o único capaz de compor na banda. Tive uma culpa parcial nessa situação porque não tinha muito o que acrescentar. Gilmour, que poderia oferecer muito mais, somente ajudou em algumas músicas ali.”. Na verdade, Gilmour apenas dividiu os vocais e compôs Dogs em parceria. Defendendo-se, Waters justifica sua prepotência: “Não existia espaço para que outra pessoa escrevesse. Se eu encontrasse uma sequência de acordes, certamente a usaria. Também não havia motivo para que Gilmour, Wright ou Mason tentassem escrever algumas letras, já que elas nunca seriam tão boas quanto as minhas.”.

Snowy White
Waters havia se separado há pouco tempo de sua mulher e escreveu na última hora Pigs On The Wing, uma canção de amor que serviria para aliviar a tensão do disco em homenagem à sua nova namorada, Carolyne Christie. “A primeira parte indaga ‘Onde eu estaria sem você’. A segunda diz: ’Diante de toda essa merda, sei que você está ao meu lado e isso torna tudo possível’”, explica o músico. Originalmente, a faixa continha um solo de Snowy White, músico contratado para servir como guitarrista e baixista de apoio para os shows, mas foi descartado quando dividiram a música em duas partes, abrindo e fechando o disco: “Achei que era necessário, caso contrário o álbum seria apenas um grito de raiva.”, explicou o baixista. Dividindo a faixa, os royalties que Roger receberia como compositor aumentariam, fato que acarretou muitas desavenças entre os músicos.

Responsáveis pelas capas desde 1968, a união entre o Pink Floyd e a Hipgnosis rendeu mais uma imagem icônica e memorável para a arte de Animals, quase tão famosa quanto o enigmático prisma de Dark Side. Num primeiro momento, Storm Thorgerson sugeriu duas ideias, ambas rejeitadas pela banda: uma criança segurando um ursinho de pelúcia espiando seus pais fazendo sexo e a imagem de patos presos por um prego na parede de uma sala de estar. Porém, Roger Waters sabia que poderia fazer melhor e concebeu a ideia do porco inflável sobrevoando as torres da Battersea Power Station que todos conhecemos: “Eu gostava do simbolismo bruto... via as quatro torres fálicas e o porco como um símbolo de esperança.”. A Usina de Força Battersea retrata um cartão postal impactante na paisagem londrina. Localizada nas margens do rio Tâmisa, foi projetada por Sir Giles Gilbert Scott (o mesmo da famosa cabine telefônica), teve a primeira parte finalizada em 1933 e consistia na união de duas usinas de forças. A segunda delas foi completada somente em 1953 e deu vida às quatro imponentes chaminés. Waters passava de carro em frente à usina praticamente todos os dias no seu trajeto para o estúdio, o que o inspirou para que surgisse com a ideia da capa.

Um porco inflável de nove metros de cumprimento preenchido com gás hélio, apelidado de Algie, foi encomendado pela empresa alemã Ballon Fabrik, a mesma responsável pela construção dos primeiros Zeppelins. Por segurança, contrataram um atirador para que acertasse o porco caso ele se soltasse das amarras em que foi preso. A primeira sessão de fotos foi marcada para 2 de dezembro, mas as condições climáticas não ajudaram.  No dia seguinte, embora o tempo estivesse melhor, o atirador não chegou no momento em que os trabalhos foram iniciados e, por conta de uma forte rajada de vento, Algie se soltou das amarras de aço e foi dar um passeio pelo céu de Londres. Aubrey Powell,  sócio da Hipgnosis e um dos responsáveis pelas fotografias, relembrou a confusão: “O Controle de Tráfego Aéreo começou a reportar o porco voador.”. Somente às 10 da noite ele foi encontrado numa fazenda em Kent. “O fazendeiro ficou furioso porque parece que o suíno gigante assustou todas as suas vacas.”.  No terceiro dia tudo ocorreu bem, mas as fotos não agradaram quando foram reveladas. A sorte foi que Howard Bartrop, um dos fotógrafos, ainda no primeiro dia olhou para as nuvens quando estava quase voltando para casa e resolveu tirar um último retrato: “O Sol estava saindo das nuvens mais baixas. Eu voltei e ajustei a câmera para a última fotografia com o Sol no horizonte.”. Esse último registro de Bartrop foi utilizado na colagem com o porco sobrevoando Battersea que está estampada na capa. “Se tivéssemos feito isso logo no começo, teríamos economizado milhares de libras”, admite Powell.

Algie na mira do atirador
O álbum teria sua estreia nas rádios durante o programa de Nicky Horne chamado Your Mother Wouldn’t Like It,  que era concorrente direto do famoso John Peel da BBC. A ideia era apresentar um especial  chamado The Pink Floyd Story contendo entrevistas feitas pelo próprio Horne que seria divido em diversas partes culminando na exclusiva première. Em 19 de janeiro de 1977, a EMI agendou uma audição para a imprensa na Battersea Power Station em que eram proibidas anotações dos jornalistas durante as músicas. Depois de seis semanas anunciando Animals com exclusividade, Horne estava ouvindo o programa de John Peel e não acreditou quando ouviu o lado A do disco sendo tocado na íntegra justamente um dia antes da sua programação. “Eu tinha feito um grande anuncio sobre a estreia no meu programa e na noite anterior não acreditei quando ouvi o John Peel tocando o primeiro lado do disco.”, relembra Horne. “E teve uma punhalada pelas costas: eu acho que Gilmour deu uma cópia a ele.”.

O lançamento ocorreu em 23 de janeiro, chegando ao número dois no Reino Unino e ao terceiro posto na América. “Eu não esperava que vendesse tanto quando WYWH. Não tinham muitas partes doces e cantáveis ali.”, recorda Gilmour. De fato, à exceção de Pigs On The Wing, esse era de longe o disco mais direto e cru registrado até então e, definitivamente, não foi feito pensando no topo das paradas de sucesso.

O show da turnê era um espetáculo à altura do que eles já tinham feito. Percebendo o espaço de palco necessário, o número de torres de luz, PA’s, pirotecnia e a quantidade absurda de energia que seria consumida para que tudo isso funcionasse, perceberam que as casas convencionais não suportariam tamanha demanda, sendo as arenas e estádios as únicas alternativas plausíveis. Dentre as atrações, figuravam um porco inflável que flutuava por cima da plateia até sumir atrás do palco e reaparecer mais tarde numa versão mais barata que desaparecia em chamas; fogos de artifício que quando explodiam lançavam paraquedas em forma de ovelhas; a imagem de uma família inflável composta por um homem de negócios, sua mulher e crianças surgindo em Dogs (nos EUA, os adereços também incluíam um carro, uma geladeira e uma televisão), além de várias animações de Gerald Scarfe, que foram aprimoradas. Numa nova atribuição, Nick Mason ficava incumbido de sintonizar ondas sonoras num rádio transistor no início de Wish You Were Here.

O espetáculo era divido em duas partes: a primeira contendo Animals rearranjado para que abrissem com Sheep, e a segunda tocando WYWH na íntegra, além de um bis com Money ou Us And Them. No papel tudo parecia maravilhoso, mas no decorrer da turnê foram revelados diversos problemas que afetavam a qualidade das apresentações. Acontece que diante de tanto efeitos de palco, o grupo deveria estar perfeitamente sincronizado com a equipe, o que não era sempre que ocorria. Para diminuir a incidência de erros, Waters passou a utilizar fones de ouvido que, se por um lado o ajudavam na parte musical, por outro representavam uma distancia da plateia cada vez maior. Concentrados e nervosos para não errar, todos tocavam de cabeça baixa, sem olhar para frente ou para os lados, o que começou a irritar o público, culminando numa carta de um fã ofendido num dos shows em Wembley publicada na Melody Maker, relatando ter visto Gilmour bocejar durante o show. A previsão de Richard Wright sobre se tornarem escravos de seu próprio equipamento parecia ter se concretizado.

Roger Waters usando fones de ouvido


Os shows a céu aberto traziam outras dificuldades. Tocando diante de um público de mais de 80 mil pessoas, o Floyd se deparava diante de fãs bêbados e drogados que não se concentravam na atmosfera e sutiliza musical que expunham, pouco se importando com o que estavam tocando. Gilmour relata essa experiência: “Parecia que estava fornecendo música para a festa de alguém. Roger não suportava isso. Eu tinha uma visão diferente, mas às vezes era difícil aguentar. Isso transformou o show porque não conseguíamos tocar as músicas mais calmas como antes.”. 

Em certo ponto da turnê, Waters começou a gritar números aleatoriamente durante a execução de Pigs (Three Different Ones). Somente após algum tempo perceberam que os números representavam quantos shows eles haviam feito até então, indicando uma contagem regressiva para o fim daquela tour infernal. Para piorar, sua saúde estava muito debilitada, até que minutos antes do show no Philadelphia Spectrum, um médico lhe receitou um relaxante muscular para que suas dores abdominais diminuíssem. O efeito do remédio lhe causou dormência nas mãos, de modo que não as sentiu durante a apresentação inteira. Tal evento inspirou a letra de Confortably Numb, presente no disco seguinte. Mais tarde, Roger foi diagnosticado com hepatite.

Fora dos palcos o clima estava cada vez mais tenso. Roger Waters se isolava do grupo chegando sozinho aos locais dos shows e não participava de jantares ou festas depois deles. Essa atitude incomodava demais Richard Wright, que chegou a sair do palco, entrar num avião e voltar para a Inglaterra. “Eu estava ameaçando sair, e lembro-me de ter dito: ‘Eu não quero mais isso’”, relembra o tecladista.

Toda a raiva sobre o que estava acontecendo veio à tona em Nova Iorque, 3 de julho, no Madison Square Garden. Muitos levaram os fogos de artifício que seriam utilizados no dia seguinte (Dia da Independência dos EUA) para o show. Em meio a pedidos por Money ou simples gritos de ”rock and roll”, a plateia começou a soltar fogos para todos os lados durante a acústica e bela canção de amor Pigs On The Wing. O público se recusava a ficar quieto e prestar atenção na música, então Roger gritou em alto e bom som: “You stupid motherfuckers! Shut the fuck up!”. Ele revelou anos mais tarde: “Eu me sentia mais e mais alienado em relação às pessoas que deveríamos entreter. Muitas pessoas iam aos shows porque não tinham mais o que fazer.”. Nick Mason recorda: “Os dias em que nossa plateia ficava num profundo silêncio prestando atenção em tudo que fazíamos definitivamente tinham acabado.”.

Três dias depois eles estavam em Montreal para realizar a última apresentação da exaustiva turnê. Foi nesse dia que tudo desabou de vez. Depois de muitos gritos e mais fogos de artifício, Waters se irritou com um fã em específico que, segundo o baixista, não parava de berrar sua devoção pela banda. Cego pela ira, o baixista caminhou até a beira do palco e cuspiu diretamente no rosto do fã. Curiosamente, “Who was trained not to spit in the fan”, Roger indagava na parte final de Dogs. No bis, todos voltaram para improvisar um blues lento, menos Gilmour, que ficou parado atrás da mesa de mixagem: “Pensei que era uma grande vergonha terminar uma turnê de seis meses daquela forma.”.

Após o show, Waters e o empresário Steve O’Rourke estavam brigando de brincadeira quando o baixista cortou seu pé sem querer. Uma limousine estava à disposição e Roger, sua namorada, o produtor Bob Ezrin e um amigo psiquiatra foram rapidamente para o hospital. Ezrin relembra os pensamentos que Waters compartilhou com todos dentro daquele carro: “Ele começou a falar sobre o sentimento de alienação da turnê e como sua mente imaginava construir um muro entre ele e a plateia. Meu amigo psiquiatra ficou fascinado.”. Em The Wall, essa parede foi literalmente construída.



domingo, 13 de janeiro de 2013

Classic Albums: A história por trás de Sabotage




Pôster de divulgação do California Jam
Em 1974, o Black Sabbath estava exausto após a cansativa rotina de gravações e turnês ininterruptas durante anos. Tony Iommi passou por uma crise de stress durante a turnê de divulgação do Sabbath Bloody Sabbath e todos sentiram que era a hora de tirar um merecido descanso. Em suas casas, na Inglaterra, receberam um convite para tocar no California Jam, festival também encabeçado pelo Deep Purple e ELP, que ocorreria no Ontario Motor Speedway. A primeira reação da banda foi rejeitar a proposta, mas foram obrigados pelo empresário Patrick Meehan a viajar para os EUA no meio de suas férias para a apresentação. Diante das mais de 300.000 pessoas, os ingleses chegaram ao autódromo de helicóptero com toda a pompa de rockstars que haviam se tornado e não fizeram feio. Descarregando clássicos como War Pigs, Killing Yourself To Live, Children Of The Grave e Snowblind, agitaram muito o público, embora a briga de egos entre Iommi e Ozzy tenha forçado o carismático vocalista a cantar no canto do palco, enquanto o guitarrista, quase estático, se posicionava mais ao centro. Um absurdo que perdurou até a saída de Ozzy, em 1979.

Em cima do palco, o Sabbath foi profissional e fez um grande show, mas nos bastidores o ambiente com o empresário era dos piores e todos começaram a desconfiar dele. “Patrick Meehan nunca dava uma resposta direta quando perguntávamos quanto dinheiro estávamos ganhando”, reclamou Ozzy numa entrevista anos mais tarde. Geezer Butler foi mais enfático:  “Sentimos que estávamos sendo roubados.”.

A história do empresário com a banda começou em 1970, quando acharam que Jim Simpson não conseguiria mais dar conta do recado após o lançamento de dois álbuns que entraram na lista dos dez mais vendidos no Reino Unido e com sucesso repentino que os atingiu. Meehan, que era assistente do todo poderoso Don Arden, chegou para colocar a banda nas vitrolas e palcos do mundo inteiro. “No começo ele realmente elevou nosso nível. Foi quem nos levou até a América.”, relembra Iommi. Os três álbuns seguintes, Master Of Reality, Vol. 4 e Sabbath Bloody Sabbath chegaram ao Top 10 no Reino Unido e ao Top 20 nos EUA. Em 1974,  todos já possuíam carros de luxo, mansões e esbanjavam dinheiro.

Porém, desconfiados e cansados das suas atitudes autoritárias, o Sabbath decidiu demitir o empresário pouco tempo depois do California Jam. É óbvio que Patrick não iria largar uma das maiores bandas de rock do mundo tão fácil. Foram processos judiciais, inesgotáveis negociações, reuniões com advogados que atrasaram e tumultuaram as gravações do próximo disco. O título escolhido não poderia ser mais propício: Sabotage representava o sentimento de todos diante da situação. Tudo isso refletiu em sua sonoridade, como explica Tony Iommi: “Estávamos no estúdio um dia e nos tribunais ou numa reunião com os advogados no outro. Isso tornou o som um pouco mais pesado do que no Sabbath Bloody Sabbath. Minha guitarra estava mais pesada. Isso tudo veio em decorrência do nosso sentimento em relação ao negócio da música, empresários e advogados.”.

Mais uma vez, todos se reuniram no Morgan Studios, em Willesden, noroeste de Londres, e lá ficaram por quatro meses a partir de Fevereiro de 1975. Para quem gravou um álbum de estreia em três dias pela bagatela de 600 Libras, era um tempo/custo inimaginável que enlouqueceu todos. Butler definiu seu estado mental durante esse período em quatro palavras: “Preocupado, cansado, bêbado e drogado.”. 

Mike Butcher, mesmo produtor do disco anterior, foi chamado novamente. Sobre a agenda atrasada das gravações, comentou: “Chegava ao estúdio às duas da tarde, mas ninguém aparecia até umas quatro. Como o Morgan tinha um bar, era lá  que eles ficavam esperando até todos chegarem. Então, na maioria dos dias começávamos a trabalhar às nove e íamos até uma, duas da manhã do dia seguinte.”.

A bebedeira continuava dentro das salas de gravação 3 e 4  do estúdio, além da presença de notáveis quantidades de maconha e cocaína em que se afundavam. Embora alterados, todos conseguiam gravar. Butcher se lembra de apenas uma ocasião em que não puderam registrar nada: “Como tudo era gravado ao vivo, a banda sempre pedia para que Ozzy cantasse junto enquanto estivessem tocando. Mas teve somente uma única vez em que Ozzy estava desmaiado de bêbado no sofá e ninguém podia fazer nada.”.

A ideia de Iommi era lançar um álbum com uma sonoridade mais direta em oposição ao complexo disco anterior, que continha muitos elementos de rock progressivo como orquestras, experimentos e ainda contava com a presença de Rick Wakeman, tecladista do Yes. “Poderíamos ter continuado ficando mais técnicos, utilizando orquestras e tudo mais, mas queríamos fazer um disco de rock.”,  disse o guitarrista. Embora fosse essa a sua intenção, ouvindo o álbum percebe-se tons experimentais e ele soa bem variado, no geral.

O disco abre com um zumbido de amplificadores ligados e com o produtor gritando “Attack!”. Trata-se de uma piada interna entre eles, conforme Mike Butcher explica: “O Sabbath tinha uma banda de abertura que o empresário ficava gritando “Attack! Attack”  atrás deles no palco. Então eu gritei isso da sala de controle através do Tannoy.”. (N.T: Tannoy é uma marca de alto-falantes). Hole In The Sky é uma típica pedrada do Sabbath, com direito aos riffs certeiros e marcantes de Iommi e letra mais profética que Geezer já escreveu, segundo o mesmo: “O mundo ocidental estava indo contra o oriente, o buraco na camada de ozônio, o futuro com os carros. Parecia que tudo que ficava ao leste da Europa representava uma ameaça. O Japão evoluindo no mundo dos negócios, Mao dominando a China, a União Soviética com a guerra nuclear e o Oriente Médio estava uma confusão, como sempre.”.

Em contraste a uma pequena peça instrumental de violão clássico, Don’t Start (Too Late), surge um dos riffs mais pesados de todos os tempos na clássica e filosófica Symptom Of The Universe: “A música era sobre amor, destino e crença. Amor é a sintonia que nos leva adiante na vida. Morte é a cura, mas o amor nunca morre. Eu estava me sentindo religioso e tudo na minha vida parecia predestinado.”, comentou Geezer. A fúria de Iommi contra o  ex-empresário escorreu pelos seus dedos e criou essa pérola do Heavy Metal. Para aliviar a tensão, a música termina com um ritmo funky criado enquanto faziam uma jam no estúdio, adicionando um overdub de violão posteriormente.

O lado experimental do disco fica registrado na instrumental Supertzar, utilizada na abertura de muitos shows de diversas formações ao longo da carreira. Sombria como a faixa que dá nome à banda, conta com a participação do coral da English Chamber Choir, descrito por Bill Ward como “cântico demoníaco”, e com o baterista tocando os Tubular Bells, que ficaram famosos na obra Mike Oldfield incluída como tema do filme “O Exorcista”, de 1973. Segundo Ozzy, a música soa como “Deus conduzindo a trilha sonora para o fim do mundo.”.

A variação continua na pop Am I Going Insane (Radio), composta por Ozzy num moog. Ward relembra: “Oz deixou todos malucos com aquele moog, mas a música era boa. De um ponto de vista, foi como uma precursora da sua carreira solo. Sua personalidade está transbordando nela.”. O Radio incluído no nome confundiu a cabeça de muitos que acharam ser referência à música comercial, feita para as rádios, diante da sua sonoridade pop. Na verdade trata-se de uma espécie de gíria inglesa, Radio Rental, que significa “louco”. “É uma música definitivamente autobiográfica de Ozzy.”, comentou Butler.

Ainda mais autobiográfica era a letra de Ozzy para a música que fechava a bolacha, The Writ. O vocalista claramente a dirige para Patrick Meehan, “What kind of man do you think we are, Another joker who`s a rock and roll star for you, just for you” e  “A lot of promises that never come true, You’re gonna get what’s comming to you, that’s true, I hate you, Are you Satan, are you man, You’ve changed a lot since it began”, entregam as cartas sobre quem ele estava falando. A faixa tinha um efeito terapêutico para ele: “Era como ir a um psicólogo. Toda a raiva que eu tinha por Meehan acabou vazando.”. As risadas do início foram registradas por uma amigo australiano de Geezer, que foi convidado para participar enquanto estava visitando Londres.

Um mês após o término das gravações, durante a primavera de 1975, Mike Butcher foi para Nova Iorque rever a mixagem e a masterização de Sabotage. Foi nessa viagem que o produtor acrescentou ao final de The Writ um pequeno pedaço de uma canção intitulada Blow On The Jug, sem o conhecimento da banda.  O produtor explica: “Os microfones ficavam instalados por todo o estúdio. Então uma noite Ozzy e Bill estavam brincando no piano e resolvi gravar.”.  Irritado, Bill Ward conta a sua  versão da história: “É uma grande coisa idiota. É uma música de bêbados que eu e Ozzy cantávamos juntos numa van ou num avião. Sou eu tocando piano e Ozzy assoprando numa garrafa de sidra, como se fosse uma tuba.”.

Uma curiosidade fica por conta da roupa que Bill veste na foto da capa. Acreditem, a calça leg vermelha pertencia à sua mulher, como ele explica: “Eu tinha um par de jeans que estava muito sujo, então minha mulher me emprestou uma calça. Para que minhas partes íntimas não ficassem muito salientes por baixo da roupa apertada, peguei uma cueca emprestada do Ozzy porque eu também não tinha nenhuma.”. O figurino do vocalista também não é dos melhores, com sua veste tipicamente japonesa que lhe rendeu a apelido de "homo in the kimono", satirizado pelos seus companheiros. Esse visual desarmônico pode ser o reflexo de tudo que estavam passando. "É o caos personificado.", comentou Butler sobre a capa.

Sabotage foi lançado em 27 de Junho de 1975 e foi bem recebido, chegando ao sétimo lugar no Reino Unido, mas nos EUA ficou com a vigésima oitava posição, uma decepção depois de quatro discos seguidos figurando no Top 20. A Rolling Stone ficou empolgada na época e escreveu: “Sabotage não é somente o melhor desde Paranoid, mas pode ser o melhor que já lançaram.”.
                                                                                                    
O disco foi o último clássico indispensável da fase com Ozzy no grupo, visto que os próximos, Technical Ecstasy (1976) e Never Say Die! (1978), são apenas medianos e pouco inspirados. Vivendo no meio de um turbilhão de brigas judiciais, cansaço físico e mental, os ingleses conseguiram superar as adversidades e registrar uma bela obra que influenciou gerações, vide o cover de Hole In the Sky (ouça aqui) do Pantera e a versão destruidora de Symptom Of The Universe do Sepultura (ouça aqui). Recentemente, Bill Ward comentou: “Foi tão difícil para fazermos esse álbum, mas quando o ouço novamente agora... Deus, é incrível.”.


domingo, 6 de janeiro de 2013

Classic Albums: A história por trás de Pronounced Leh-Nérd'Skin-Nérd




Al Kooper, experiente e respeitável produtor, compositor e parceiro de Bob Dylan, Stephen Stills, entre outros, definitivamente mudou para sempre a história dos rapazes de Jacksonville, Flórida.  Em 1972, o Lynyrd Skynyrd tocava em qualquer espelunca que oferecesse um oportunidade para eles se apresentarem. Graças ao empresário Alan Walden, irmão de Phil Walden e co-proprietário da Capricorn Records, eles conseguiram uma temporada de seis datas no Funochio`s, o bar mais barra pesada de Atlanta, onde o vocalista Ronnie Van Zant relatou que ocorriam no mínimo duas brigas por noite e pelo menos um tiroteio por semana. Mas eles não tinham escolha: “Não estávamos atrás de confusão, mas você tinha que entrar numa briga se quisesse sair de lá vivo. Depois que tocávamos no Funochio’s, voltávamos para Florida para ensaiarmos um novo show para a próxima vez em que nos chamássemos por lá. Alguns membros da banda tinham empregos de meio período, como entregador de flores, por exemplo, só para continuarmos os ensaios. Todos saímos da escola para nos tornarmos profissionais, então sabíamos que não importava o quão difícil fosse, deveríamos insistir para que desse certo, caso contrário não seríamos nada mais que colhedores de algodão”, explica Ronnie.

Al Kooper
É nessa pequena temporada no Funochio’s que Al Kooper entra em cena. O produtor estava em Atlanta trabalhando na gravação de músicas para sua banda de apoio na época, Frankie and Johnny. No tempo livre, Kooper resolveu visitar o bar de um amigo de infância e lá viu o Lynyrd pela primeira vez em cima do palco e relembra: “Na primeira noite curti I Ain`t the One, na segunda adorei Gimme Three Steps e lá pela quarta estava tocando no palco com eles. Na quinta ofereci o contrato da gravadora.”.

Na época, Al já tinha convencido os executivos da MCA a bancarem a Sounds Of The South, sua gravadora e mais nova empreitada que tinha como objetivo competir com a Capricorn Records e lançar todas aquelas bandas maravilhosas que ele assistia ao vivo pelo sul dos EUA. Na visão de Kooper, o Lynyrd era o seu Allman Brothers, uma joia na coroa do Southern Rock. A banda, que não tinha nada a perder, aceitou o acordo.

Enquanto faziam os ajustes do contrato, o baixista Leon Wilkeson, que tinha 20 anos e fazia parte do grupo há seis meses, resolveu pular fora do barco. “Eu saí porque tinha uma ideia assombrosa sobre ter fama, ser reconhecido. Eu senti que não estava preparado para o sucesso.”, explicou Leon.

Para ocupar o posto de baixista, Ronnie procurou Ed King, guitarrista do Strawbery Alarm Clock, com quem havia feito uma turnê conjunta em 1970 pela Flórida. Ed havia ficado impressionado com o Lynyrd e disse ao vocalista que caso sobrasse uma vaga, que o chamasse imediantamente para preenchê-la. Depois de muita procura, Ed foi encontrado tocando numa banda de bar em Greenville, Carolina do Norte. Com a formação completa, rumaram para Green Cove Springs, cidade próxima a Jacksonville onde tinham uma pequena cabine de ensaio apelidada “Hell House” devido ao calor infernal que fazia lá dentro. Ali eles ficaram ensaiando doze horas por dia durante três meses.

Em março de 1973, a banda finalmente assinou o contrato com a Sounds Of The South Records e receberam um adiantamento de nove mil dólares em notas de cem, que utilizaram para comprar novos equipamentos. As gravações começaram no dia 27 daquele mês e na semana seguinte seis músicas já estavam prontas, sendo que as bases foram registradas em no máximo dois takes. “Todos sabiam suas partes, batida por batida, nota por nota, de olhos fechados, de trás para frente. Era como respirar, de tantos ensaios que fizemos.”, lembra o baterista Bob Burns.

A relação entre produtor e banda havia se tornado muito íntima desde aquela jam que fizeram no Funochio’s. Kooper, empolgado com as gravações, passou a opinar, compor e modificar os arranjos, como fez em I Ain’t The One e Gimme Tree Steps, além de tocar mellotron em Tuesday’s Gone e mandolin em Mississipi Kid. O Roosevelt Gook, que aparece como um dos baixistas nos créditos, na verdade é o próprio produtor, que assinou o disco sob um pseudônimo.

As letras traziam os músicos para perto dos fãs, retratando temas presentes no dia-a-dia de um cidadão comum. Musicalmente,  sua maior influência, além da óbvia música sulista, era a segunda geração do rock inglês, declaradamente o Free como principal inspiração. Essa combinação entre country e rock os aproximava muito mais do Southern Rock do que o Allman Brothers, por exemplo, de raízes blueseiras com pitadas de jazz. Vant Zant disse que em 1972 Gregg Allman chegou para ele perguntou “Você é o cara que está tentando me imitar?”. Talvez pelo fato de que Zant casou-se com Judy, uma ex-namorada de Gregg, fato é que a competição entre eles e suas respectivas bandas sempre existiu. Porém, qualquer um que ouvia as duas notava a diferença. O ABB veio antes, mas foi o Lynyrd que carregou a bandeira sulista mundo afora.

O ápice do disco era, sem dúvida, Free Bird. Relatando o fim de um relacionamento ao longo de seus dez minutos, possui um dos solos de guitarra mais marcantes da história, registrando o duelo entre Gary Rossington e Allen Collins de maneira inspirada e brilhante. A MCA insistiu, em vão, que eles fizessem uma versão de três minutos para ser lançada como single. Gary relembra: “Dissemos ‘Não nos importamos, essa música detona ao vivo, vocês podem escolher outras para a rádio’”. Recentemente, a canção foi resgatada no terceiro volume da série de jogos Rock Band como sendo a mais difícil de ser executada na guitarra, apresentando o clássico para as novas gerações.

Outra faixa que se destacava era a tocante Simple Man. Num dia qualquer, Ronnie estava em seu apartamento acompanhado de Gary Rossington, relembrando histórias de sua avó que havia acabado de falecer. O guitarrista começou a dedilhar seu violão e ambos, pensando em suas mães e avós, foram compondo uma letra baseada na ideia de uma mãe que dá conselhos ao filho, ensinando-lhe valores como a fé, humildade, amor e desapego material. Impossível não se emocionar com sua letra e melodia inspiradas pela sabedoria materna.

Leon Wilkeson, vendo que não poderia deixar a oportunidade passar em frente aos seus olhos, decidiu voltar para a banda ainda em tempo de aparecer na foto da capa, e então o Lynyrd formou o trio de guitarras mais clássico de toda a história, cada um soando distintamente, com Ed King e sua Stratocaster preenchendo o espaço deixado pela Les Paul de Rossington e pela Gibson Firebird de Allen Collins. Sustentados pela cozinha precisa de Wilkeson e Robert Burns, o tecladista Billy Powel completava a formação.

Antes do disco ser lançado, Kooper convidou executivos de grandes gravadoras, dj’s, apresentadores de rádio, críticos, além de Marc Bolan do T. Rex e todo o pessoal da MCA para a grande festa de abertura da Sounds Of The South no Richard’s, em Atlanta, num domingo, 29 de Julho de 1973. Nessa ocasião, o Lynyrd, prata da casa, abriu o show com uma nova música chamada Working for MCA, em homenagem à gravadora que os contratou e que foi incluída no próximo álbum, Second Helping.

Pronounced’Leh-Nérd’Skin-Nérd, chegou às lojas em 13 de Agosto de 1973. O título ensinava a todos como pronunciar corretamente o nome da banda, já que o mesmo ficaria famoso mundialmente pouco tempo depois. Free Bird, rejeitada como single pela gravadora, tornou-se a canção mais tocada nas FMs do país em sua versão completa e o disco vendeu mais de 100.000 cópias logo de cara, com críticas positivas aparecendo em toda imprensa musical. 

Antes de todo o sucesso, a banda foi convidada pelo The Who para abrirem a turnê que fariam pela América do Norte promovendo o disco Quadrophenia. Todos ficaram surpresos e alegres com o convite, já que teriam a oportunidade de tocar diante de 20.000 pessoas numa única noite, nas maiores casas norte-americanas. A primeira data aconteceu no Cow Palace, em São Francisco e o começo não foi dos mais animadores. A plateia começou a arremessar moedas na desconhecida banda assim que eles subiram no palco. Porém, a mesma audiência pediu bis no final do show. O empresário do The Who na época, Peter Rudge, disse: “Nenhuma banda que já abriu para o Who tinha voltado ao palco para um encore”. Pouco tempo depois, Rudge tornou-se empresário do Lynyrd. Bill Curbishley, outro empresário da banda inglesa, também se espantou com os americanos: “Eles queriam ser mais loucos que Keith Moon. Queriam ser melhores e maiores que o The Who em tudo. Eles já eram loucos naturalmente, mas esse encontro com Who acendeu a chama. Isso também deu motivação e direção eles.”. Que estreia!