quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Classic Albums: A história por trás do Master of Reality




Pôster do filme
com Boris Karloff
A história do quarteto mais famoso de Birmingham teve início em 1968, quando ainda se chamavam Earth, mudando para Black Sabbath influenciados pelo filme de terror homônimo com Boris Karloff  que o baixista Geezer Butler havia assistido num cinema próximo à sua casa e após notarem que já existia outra banda usando o antigo nome. O grupo evoluiu muito rápido e o saldo no final de 1970 já era gigantesco: dois discos lançados figurando entre os vinte mais vendidos no Reino Unido, a estreia em LP marcava presença nos Top 30 nos Estados Unidos, a música Paranoid tornou-se um single Top 5 em sua terra natal, além de shows na América e por toda Europa.

Nesse clima de euforia e para não perder o pique, no primeiro dia de Janeiro do ano seguinte já agendaram uma sessão no Island Studios em Londres, em companhia da mesma equipe que gravou os dois primeiros discos: o produtor Roger Bain e o engenheiro de som Tom Allom, que trabalharia futuramente com os conterrâneos do Judas Priest em clássicos seminais da banda. Nesse estágio, o Sabbath já estava trabalhando nas músicas After Forever e Into the Void, embora essa última ainda se chamava Spanish Sid, sendo que as duas foram sendo refinadas numa curta turnê que a banda fez ainda em Janeiro pelo Reino Unido. Uma curiosidade que ronda essa sessão é uma faixa que a banda gravou contra sua vontade para ser lançada como single de estreia, intitulada Weevil Woman ’71’,  que ficou de fora do lançamento oficial na época e permaneceu guardada até lançarem a versão dupla expandida que saiu em 2009.

Depois da tour no início do ano, a banda voltou para o mesmo estúdio e gravaram o terceiro álbum de sua carreira entre Fevereiro e Abril, o que era um longo período e uma novidade para eles até então: “Tivemos dois dias para gravar nosso disco de estreia e não muito mais que isso para o Paranoid. Aproveitamos a oportunidade: Tony compôs peças de violão clássico, Geezer multiplicou o poder de seu baixo, eu explorei os overdubs e uma bateria com som mais grave, além de Ozzy estar muito melhor”, relembra Bill Ward. A bateria a que ele se refere é a 600 Ludwig Series.

Uma outra mudança que surtiu efeito na banda decorreu do acidente de trabalho que cortou a ponta dos dois dedos interiores da mão direita de Tony Iommi. Para sentir-se mais confortável ao tocar, o guitarrista abaixou o tom do seu instrumento para Ré. Consequentemente, Geezer também teve que mudar a afinação de seu baixo e isso tornou o som do Sabbath muito mais grave, pesado e sombrio. Tal afinação tornou-se marca registrada dos estilos Doom e Stoner, além influenciar toneladas de bandas modernas até hoje.

Até então eles ainda tinham controle sobre os excessos que cometeriam anos mais tarde. A insanidade que foi o abuso de drogas que tomou conta de todos ainda não havia os atingido: “Não é que não existiam drogas ou álcool por perto, mas naquela época ainda tínhamos controle desses hábitos. Conseguia me drogar e gravar logo em seguida, beber num pub e saber a hora de parar. Isso somente se tornou um problema anos mais tarde.”, admite Bill.

O álbum abre com uma das músicas mais adoradas da banda, Sweet Leaf. Butler revela a inspiração para a letra: “Estávamos gravando no Island Studios e eu fumava alguns cigarros da marca Sweet Afternoon que tinha acabado de trazer da Irlanda e que só existiam por lá. No maço estava escrito ‘It’s the sweetest leaf that gives you the taste’ (N.T: é a folha mais doce que te dá o sabor).  Então Ozzy leu frase e disse ‘O que será que dá pra escrever sobre isso?’, então já pensei ‘Sweet Leaf – yeah’’’’  - referindo a uma outra "folha" que pintava naquele estúdio.

Embora muitos ainda acreditem que foi Ozzy quem deu a famosa tossida que inicia a faixa, na verdade foi Tony Iommi quem se engasgou perto do microfone depois de dar uma bela tragada num baseado enquanto as fitas de gravação ainda estavam rolando entre uma música e outra. No fim daquele dia, quando o engenheiro de som se deparou com a tossida, sugeriu a Ozzy a ideia de utilizá-la na canção, o que agradou o músico. No dia seguinte estava pronto um loop bem curto que resolveram encaixar logo no começo, já que tinha tudo a ver pelo fato de a letra tratar da erva proibida.

Para After Forever, Iommi escreveu uma letra que falava abertamente sobre a crença no Cristianismo de forma positiva, afastando-se da temática sombria com que Geezer tratou sobre religião no passado. Bill Ward comenta sobre o assunto: “Anteriormente falamos sobre o lado negro das coisas e ainda penso no Sabbath como uma força escura, mas não estávamos descartando o Cristianismo.”. Mas é claro que Butler não deixou de desenvolver o tema no qual é especialista e na pesadíssima Lord of This World volta a tratar dos assuntos obscuros da nossa existência, após um belo instrumental de violão clássico intitulado Orchid.

Assim como War Pigs no disco anterior, Children of the Grave é a faixa com temática anti-guerra da vez. “Quando começamos a tocar a música na turnê pelos Estados Unidos, foi bem na época em que os veteranos da Guerra do Vietnã estavam voltando pra casa. Muitos deles iam aos nossos shows na cadeira de rodas e quando tocávamos essa canção ou War Pigs, eles chegavam até a frente do palco e erguiam suas bandeiras cantando junto. Era muito emocionante”, lembra Bill. Ela começa com uma faixa que serve como introdução chamada Embyo e desemboca num ritmo cavalgante que marcou época e arrepia até hoje, sendo obrigatória em qualquer show de todas as fases da banda. O final assustador composto por sintetizadores foi chamado de The Haunting.

Solitude é a música mais calma e viajante, lembrando Planet Caravan do segundo disco, e mostra a versatilidade dos músicos na composição. Mikael Akerfeldt, fã confesso e incondicional do Sabbath, a executou na atual turnê do Opeth. Confira a versão: http://www.youtube.com/watch?v=jtpZEk41bVY
Em seguida, Into the Void fecha com chave de ouro e é minha favorita! Iommi não economizou nos riffs e desfila um atrás do outro até não caber mais, com mudanças de andamento o tempo todo.



Capa da edição brasileira (1976)
Com mais de meio milhão de cópias vendidas antecipadamente, o LP foi lançado nos Estados Unidos em Julho de 1971 e um mês depois no Reino Unido, onde alcançou o número 5 nas paradas. Já na América,  ficou com o oitavo lugar, permanecendo por quarenta e três semanas entre os mais vendidos, tornando-se disco de ouro em questão de semanas e alcançou a platina em 1986. O álbum só chegou ao Brasil em 1976 e, pra piorar, os fãs tiveram que se contentar com uma capa que trazia a grafia do “Black Sabbath” impresso com letras coloridas que parecem infantis e ridículas quando comparadas às originais. No lado de dentro da embalagem havia um pôster que trazia uma foto da banda embaixo de uma árvore tirada por Marcus Keef, o mesmo fotógrafo responsável pela icônica foto que acompanhava o disco de estreia dos ingleses. Assim como em Paranoid, nenhum single foi extraído, embora tenha sido prensado um promo de 7 polegadas contendo Children of the Grave no lado A e do outro lado o Status Quo (companheiros de gravadora na época), tocando Roadhouse Blues, cover do The Doors e que pode ser conferida no clássico Piledriver, de 1972. Hoje, esse seven inch se tornou raríssimo e é sonho de consumo para colecionadores aficionados.

Pôster que acompanhava o Master of Reality

Selo do promo Black Sabbath/Status Quo

Após o lançamento, a banda caiu na estrada para sua mais ambiciosa turnê até aquele momento: foram quatorze meses praticamente ininterruptos, tirando apenas três semanas em que foram obrigados a cancelar algumas datas enquanto Ozzy se recuperava de uma laringite e Iommi de uma gripe. Ninguém é de ferro!

Sendo o álbum predileto de Bill Ward, ele o encaixa perfeitamente na discografia da banda: “Eu sempre olho para os três primeiros álbuns como parte do mesmo período para nós. Foi Master of Reality que definiu o quão bons nos tornamos. A banda atingiu o ápice com ele.  Quando ouço os primeiros discos, percebo que nos encontramos neste. Marcou um ponto em que depois começamos a nos desenvolver para outro caminho.”.


A influência que o disco exerce até hoje é incalculável. Inúmeras bandas de Heavy Metal, Doom Metal, como o Trouble de Chicago, e Stoner, vide os californianos do Kyuss, foram atingidos por esse clássico, que foi fundamental para o surgimento desses estilos. Falar dos riffs insanos de Tony Iommi e dos talentos únicos de cada músico é chover no molhado. Fato é que ninguém pode negar que a sonoridade pesada que a obra carrega é um marco para a história, assim como quando sua autointitulada estreia foi lançada e virou o rock de cabeça pra baixo.



segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

LISTA: OS MELHORES DE 2012


Sou um fã de listas! Como refletem muito o gosto pessoal de cada um, geram sempre discussões acaloradas e são ótimos temas para conversas de boteco. Com as opiniões sobre os melhores do ano pipocando por todos os sites/blogs sobre música, não poderia me escusar da nobre e deliciosa missão que é montar uma lista. Aqui vai a minha, em ordem alfabética sobre os melhores lançamentos de 2012. Não deixe de postar a sua nos comentários!

OS 10 MELHORES DISCOS

ANGLAGARD – VILJANS ÖGA



Fiquei surpreso e agradecido com a volta desses Suecos. O último lançamento havia saído no longínquo 1994 e esse ano eles soltaram essa preciosa obra de progressivo sinfônico, mostrando que não perderam a mão. Supera o clássico Hybris, de 1992, e fará a cabeça dos proggers de plantão. Quatro músicas instrumentais que giram em torno dos 15 minutos com direito a moogs, flautas, mudanças de andamento e tudo que tem direito. Muito acima da média!

BARONESS – YELLOW AND GREEN



Sem se preocupar com estilo musical, o Baroness lançou um belíssimo disco nesse ano. Uma mistura de Stoner com Progressivo e Psicodélico que deu certo sem tornar as músicas cansativas, muito pelo contrário. Trata-se de um ábum duplo com 18 músicas acessíveis e de muito bom gosto. A capa é  um presente à parte.

CANNIBAL CORPSE – TORTURE



A parceria entre o produtor Erik Rutan e o Cannibal Corpse rendeu mais um bom fruto. Nada além do bom e velho som doentio e agressivo característico da banda, mas é uma bela adição à sua discografia. Não decepciona o fãs que esperam por mais do mesmo, porém sempre certeiro, Brutal Death Metal dos americanos.


JACK WHITE – BLUNDERBUSS



A estreia solo de excêntrico Jack White foi recebida com muita euforia pelos fãs e crítica. E não é pra menos! Uma mistura de Blues Rock e Garage feito com muita originalidade e com toque pessoal torna a audição deliciosa. A versão de “I`m shaking” de Rudy Toombs já vale o disco. Sua voz está lembrando levemente Robert Plant. Levemente...


NAPALM DEATH – UTILITARIAN



Os mestres do Grindcore soltam mais uma porrada para alegria dos fãs. Algumas novidades como o solo de sax em Everyday Pox, os coros em Leper Colony e os vocais do guitarrista Mitch Harris em Order of Magnitude dão o tom experimental do álbum. A versão nacional ainda conta com uma belíssima embalagem digipack. Não dá pra perder!


RUSH – CLOCKWORK ANGELS



O inseparável trio canadense volta aos anos 70 e enfia o pé no rock progressivo novamente. Serviu para matar a saudade dos tempos áureos da banda, sendo o melhor desde Counterparts (1993).


SPECTRUM ROAD – SPECTRUM ROAD



Jack Bruce, Vernon Reid, Cindy Blackman Santana (sim, mulher do Carlos) e John Medeski prestando homenagem ao lendário baterista Tony Williams. O resultado? Um grande disco de Fusion executado por estrelas do rock.


STORM CORROSION – STORM CORROSION



Parceria entre os amigos de longa data Steven Wilson e Mikael Akerfeldt só poderia resultar em coisa boa. Os dois maiores expoentes do Rock Progressivo na atualidade se uniram e lançaram uma espécie de Folk Prog calcado em ambiências e melodias arrepiantes. Sombrio até a alma, esse disco poderia figurar numa trilha sonora de um filme de terror. Não espere nada parecido com Porcupine Tree ou Opeth, mas vale muito a pena conferir!


TESTAMENT – DARK ROOTS OF EARTH



Clássico! Na minha opinião figura fácil no top 3 do catálogo dos americanos. Thrash metal raivoso e produção certeira assinada novamente por Andy Sneap. Quem assume as baquetas dessa vez é o monstro Gene Hoglan, o que torna o álbum ainda mais atraente.


VAN HALEN – A DIFFERENT KIND OF TRUTH



O retorno do ano! Depois de muita especulação e farpas trocadas entre os integrantes, a novela acabou. O Van Halen está de volta colocando nas prateleiras um belo álbum, com astral lá em cima e fazendo a festa ao redor do mundo com seus shows sempre agitados. Como é bom ver David Lee Roth ao lado da família Van Halen novamente!


CLIPE: Storm Corrosion – Drag Hopes


CAPA: Baroness – Yellow & Green



SHOW: Steven Wilson – São Paulo, Via Marquês (21/04/2012)

DVD: Steven Wilson – Get All You Deserve



LIVRO: Luz e Sombra: Conversas com Jimmy Page. Autor: Brad Tolinsky



ESTREIA: Jack White - Blunderbuss



DOCUMENTÁRIO : Pink Floyd – The Story Of Wish You Were Here